terça-feira, 24 de julho de 2012

Eu e Meus Nós

Como gosto de escrever estou sempre à procura de novos autores. Foi assim que conheci Lucimar Rodrigues e seu livro "Eu e Meus Nós". Em versos e prosas, a autora desfila uma infinidade de momentos do cotidiano onde nos embaraçamos diante da vida. Confesso que me identifiquei com quase todo o livro, mas o texto abaixo - que dá nome à obra - é o que com certeza meu favorito.


Sempre achei o nó um mistério. Há vários tipos de nós para a pesca que exigem habilidade e destreza do pescador, paciência, concentração, um modus operandi todo especial. Há o nó de gravata - para alguns já um processo tão automático e simples, para outros, nem tanto; O nó do lenço, do cachecol que embeleza e protege o pescoço. E os nós da vida? Os amores, os conflitos familiares, a carreira escolhida, os encontros e desencontros tantos, a vida financeira (meu calcanhar de Aquiles, meu maior nó), a irmã obesidade, como diria São Francisco de Assis, os apegos tão difíceis de serem trabalhados, a falta de organização na vida pessoal, a mania de deixar tudo para depois, de adiar sempre. Como defini-los? Os elos delicados do meu cordão me confirmam a beleza e a necessidade do entrelaçamento. Enfim, laços, são produtos de nós, sem um nó bem feito o laço fica feio e torto... Hoje me peguei pensando nos meus muitos nós.

Nunca quis me apegar a nada.Desde sempre, anseio por ser livre, sem amarras. Pensei que a vida fosse plena de laços cor-de-rosa. Doce ilusão. Apego é dor e sofrimento, um nó difícil de desatar. Apego a um amor, apego ao anel de formatura, apego ao filho, apego à mãe. Animal de estimação, nunca quis ter. Prefiro lidar com o desapego, mesmo que em alguns momentos possa parecer indiferença... Começo a sofrer quando quero só para mim um grande amor e, antes de desfrutar, já me angustio com a possibilidade da perda, do adeus. Deixo de viver o presente que a vida me oferece e passo a lutar com o futuro que nem sei se virá. Apego aos sapatos, às roupas, basta um momento e o salto se quebra, a roupa se rasga ou se queima e se vai. Nada me pertence. Basta lembrar como nascemos e só voltamos à terra vestidos por questões, eu diria, até antinaturais - para que vestir o defunto, se nem ele sabe pra onde ele vai?

Nunca quis me apegar, talvez tenha sido um erro também; meus filhos, sei que não são meus e, por sabê-los não meus desde cedo, os libertei de mim mesma,, das minhas neuras, dos meus medos, da minha insegurança. Não sei se lhes agradou essa liberdade temprana...

Mesmo assim, com toda essa precaução, confesso que em alguns momentos descuidei e cometi alguns deslizes, andei me esquecendo e me apeguei... e como sofri e chorei e me enrolei em meus próprios laços e segui em frente tentando desamarrar e cada vez mais me envolvia nos meus próprios nós e me debatendo acabei por me machucar, tudo isso só pra falar do apego, os outros nós, então, certamente resultariam num livro à parte. Concluo dizendo que os meus nós, ora mais frouxos, ora mais tensos, continuarão por aí, enquanto houver vida.


Confesso que me identifico muitíssimo com o último parágrafo. Quanto ao texto, acho-o leve. Provavelmente mudaria algumas (muitas) vírgulas e escolheria algumas outras palavras. Mas, por fim, não podemos negar que nasce mais um novo talento na cidade de Brasília.

Como quase todos os livros que recebo das mãos do autor, esse é autografado. "Camila, com carinho desejo que você desate seus nós e aprenda com eles".

Um comentário:

  1. Nao sei se gostei mais do texto em si (muito bem escrito... nao na parte da gramatica, que nao entendo nada... mas por expressar muito bem as ideias... tb me identifiquei muito ali) ou da dedicatoria... que veio bem a calhar, sabemos pq....

    Ei... primeiro comentario !! :D
    Beijao, gatona !!!

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